sexta-feira, 24 de julho de 2015

Pós-graduação e gravidez: Parte II

Por Marília Bueno

Comecei a namorar o Thiago bem cedo, três anos antes de entrar na faculdade... Fui estudar na Unesp de São Vicente e todo mundo me falava que nenhum namoro resiste à uma faculdade à distância... O nosso resistiu e muito bem, obrigada! Logo engatilhei no mestrado, na USP de Ribeirão Preto. Foram mais dois anos de muitas viagens e que passamos tranquilamente. No fim do mestrado, entrei na tão conhecida crise: o que fazer agora? Um amigo me disse uma frase que nunca vai sair da minha cabeça: você prefere ser uma pesquisadora excepcional sozinha ou uma boa pesquisadora com uma família formada? Nunca tive dúvida que escolheria a segunda opção. E pensando nisso, escolhi fazer o doutorado na Unicamp, em nossa cidade natal, e assim conciliar melhor a vida profissional e pessoal. Eis que não passo na prova de Ecologia... E agora? Decidimos nos casar! Já tinham se passado 9 anos de namoro... O ano de 2009 foi super corrido, dei muitas aulas e planejei nosso casamento para outubro. Voltamos da lua-de-mel, prestei a prova de Ecologia novamente e passei! E comecei meu doutorado em 2010.


Estava tudo caminhando muito bem, tanto no doutorado quanto no casamento. Muitas disciplinas teóricas, muito trabalho de campo e uma disciplina cursada nos Estados Unidos. Fiquei muito impressionada com uma das professoras do curso. Uma mulher muito nova, casada com um docente da mesma universidade, com dois filhos pequenos e um currículo fenomenal! Claro que conversei muito sobre esse dilema que nós mulheres cientistas vivemos... Quando ter um filho? E comecei a conversar com muitas pessoas sobre o assunto... Vi casos de mulheres que esperaram a vida profissional se estabilizar para engravidar e não conseguiram, porque o tempo, além de tudo, é nosso inimigo. Ouvi opiniões de que a melhor época para engravidar é durante o doutorado, já que a pressão não é tão grande como num pós-doc e você tem mais tempo pra fazer as coisas. Enfim, o assunto ficou permeando minha mente por um tempo...



Mas sabem aquele momento que a gente sente que está faltando alguma coisa na nossa vida? Sempre ouvi dizer que o casal sentia a hora de ter um filho e nunca acreditei. Mas esse momento realmente chegou! Foi quando decidimos tentar engravidar no segundo semestre de 2013. Corri com os experimentos de campo e de laboratório, porque queria terminar toda a parte prática e deixar somente a escrita para depois do nascimento do bebê. E após apenas um mês de tentativas, lá estava eu com meu exame de sangue positivo! Fui pra campo até o 7º mês de gravidez e, obviamente, não consegui terminar tudo o que eu queria... Faltaram alguns experimentos de laboratório. 




O Murilo nasceu super saudável e virou nossa vida de ponta cabeça! Tudo muda, em especial nossas prioridades. E claro que ele passou a ser a coisa mais importante da minha vida. Mesmo assim, a vontade de voltar à vida acadêmica já batia na porta no final da licença maternidade. E voltamos com tudo. Ele entrou no berçário da Unicamp com 6 meses e dei seguimento ao doutorado... Consegui terminar meus experimentos e deu tudo certo. Hoje já sou doutora! Mas não foi fácil... Tenho pra mim que se eu tivesse conseguido terminar toda a prática antes do Murilo nascer, teria sido muito mais fácil. A vida fica mais complicada, embora muito mais gostosa, quando estamos com o filho no colo. Tarefas que demandam muito tempo (como meus experimentos, por exemplo) acabam demorando muito mais que o previsto. E quando estamos em casa, aproveitamos os horários da soneca do bebê para escrever os artigos e relatórios, mas claro que depois de fazer comida, lavar louça, passar roupa... 


Eu acredito sim que o final do doutorado é um bom momento para se ter um filho. Mas pela minha experiência, não aconselho deixar atividades práticas pendentes. Hoje o Murilo tem 1 ano e 9 meses e uma doutora mamãe, como ele mesmo diz, que tem muito trabalho pela frente! 




Sobre Marília: 

Bióloga e Doutora em Ecologia pela Unicamp, que praticamente nasceu num costão rochoso, já que trabalha neste ambiente desde o segundo ano de graduação! Seus interesses são pela atuação de processos físicos nas populações de invertebrados marinhos do entre-marés. Tem conhecimento sobre caranguejos, cracas, litorinídeos, mexilhões e anfípodes. E, claro, além de tudo, é casada e mãe de um filho lindo com quase 2 anos! Você pode acessar o curículo dela aqui.

2 comentários:

  1. Parabéns Marília pelo depoimento! Adorei!

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  2. Estou na mesma dúvida, no último ano do doutoramento, com 31 anos de idade e me sentindo medíocre academicamente por "conciliar"40 horas semanais com a pesquisa... daí meu drama e imaginar que uma criança ia me encher de novas esperanças, mas talvez inviabilizasse a conclusão do meu doutorado. Estou sentindo o tempo emocional bater na minha porta e me pedindo coragem para esse passo, mais estou como medo.

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